Operação Alcmeon: ex-desembargador é denunciado por corrupção, lavagem de dinheiro e exploração de prestígio
outubro 26, 2017
O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu à justiça duas
denúncias contra o ex-desembargador federal Francisco Barros Dias e outras doze
pessoas, por prática de corrupção, lavagem de dinheiro, falsidade documental e
exploração de prestígio.
A primeira, que tramita na 2ª Vara da Justiça Federal no RN,
narra um esquema de compra e venda de decisões judiciais por Francisco Barros
em 2012, quando ainda atuava no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5).
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Já a segunda denúncia, que tramita na 14ª Vara, descreve a
exploração de prestígio do ex-desembargador após a aposentadoria, quando passou
a advogar ilegalmente junto à mesma corte. De acordo com o MPF, Francisco
Barros, mediante utilização de terceiros, recebeu altos valores a pretexto de
influenciar no voto de ex-colegas de magistratura.
As denúncias são decorrentes da operação Alcmeon deflagrada
no dia 30 de agosto. Na ocasião, Francisco Barros foi preso preventivamente,
mas obteve a liberdade, através de dois habeas corpus analisados pelo TRF5.
Perante a 2ª Vara da Justiça Federal, o ex-desembargador
responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além de Francisco Barros,
são réus os advogados Francisco Welithon da Silva, Flávio Claudevan de Gouveia
e Ademar Rigueira Neto, bem como Eugênio Pacelli Remigio de Araújo, ex-assessor
do desembargador federal Paulo de Tasso Gadelha.
Já na 14ª Vara, o ex-desembargador é acusado de associação
criminosa, exploração de prestígio, falsidade documental e lavagem de dinheiro.
Nesse processo há acusações ainda contra a esposa do ex-desembargador, Noara
Renea Vieira de Alencar Barros Dias; os advogados Ivis Giorgio Tavares Barros
Dias, José Luiz Carlos de Lima, Anderson Gurgel Dantas e Marcos Lacerda Almeida
Filho; o bacharel em Direito, Gleydson Firmino da Silva; o empresário Edvaldo
Fagundes de Albuquerque; e o ex-prefeito de Upanema, Jorge Luiz Costa.
A segunda denúncia revela que o ex-desembargador
desrespeitou a “quarentena” constitucional, pela qual só poderia advogar junto
ao TRF5 após um prazo mínimo de três anos da sua aposentadoria, ocorrida em
2015. No entanto, desde aquele ano e até 2017 ele e outros advogados, bem como
sua esposa, teriam recebido valores significativos sob a promessa de
influenciarem no voto dos desembargadores daquela corte, para o julgamento de
diferentes ações. O MPF deixa claro, porém, que em nenhum dos casos há
evidências de envolvimento de magistrados.
Do empresário Edvaldo Fagundes, proprietário do Grupo Líder
e principal alvo da operação Salt, o ex-desembargador recebeu pelo menos R$ 515,7
mil, através da Latosensu Escola Jurídica e de sua esposa. Em associação com
alguns dos demais acusados, Francisco Barros também solicitou R$ 350 mil a
Acácio Allan Fernandes, envolvido na operação Pecado Capital. Francisco Barros
Dias havia atuado como magistrado, no TRF5, em ambas as operações.
Recebeu também R$ 135 mil de Francisco Gilson de Oliveira,
ex-prefeito de Baraúna, além de R$ 120 mil de Maria José de Oliveira,
ex-prefeita de Viçosa, e de Josifran Lins de Medeiros, ex-prefeito de São
Vicente. O ex-prefeito de Upanema, Jorge Luiz Costa pagou aproximadamente R$
281 mil pelos “serviços” junto ao TRF5 e, de Antônio Gomes, prefeito de Viçosa,
vieram pelo menos outros R$ 10 mil.
A denúncia que trata dos casos ocorridos em 2012 já foi
recebida pela justiça, e os acusados passaram à condição de réus. Ela aponta
que Francisco Barros e Paulo de Tasso Gadelha (já falecido) atuavam na segunda turma
do TRF5 e votaram a favor do habeas corpus que liberou da prisão Rychardson de
Macedo Bernardo, bem como devolveram a ele o controle sobre seus bens e
empresas, em troca de propina intermediada por três advogados. Rychardson foi
alvo da operação Pecado Capital, realizada em 2011, que apurou um esquema de
desvio no Ipem/RN.
O MPF ressalta, porém, que houve vazamento dessas
investigações, quando ainda se encontravam nos procedimentos iniciais. Ademar
Rigueira Neto foi o primeiro beneficiado e teve conhecimento dos pedidos de
afastamento de sigilo pouco tempo após serem protocolados. A denúncia indica
que os meios ilícitos pelo qual o investigado foi avisado ainda estão sendo
apurados.
Além do advogado, o ex-desembargador Francisco Barros
mantinha, em seu escritório, uma cópia dos pedidos de quebra de sigilo feitos
pelo MPF, material que se encontrava sob sigilo judicial. A cópia foi
apreendida pela Polícia Federal no último dia 30 de agosto, durante a operação
Alcmeon, dentro de um envelope da OAB/RN.
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