Meu Relógio de Barro

setembro 08, 2019

Meu Relógio de Barro
‘Causo’ escrito por Manoel Lourenço *

Sítio Saco de São Vicente, pé da Serra de João do Vale, município de Jucurutu /RN.

Foi lá onde nasci e passei os meus primeiros anos de vida.

Meu pai, incentivado por seu irmão, vendeu tudo e veio morar na cidade.

Comprou um imóvel e pôs uma bodega. Logo fez sua freguesia, quase toda formada por produtores rurais que vinham em seus animais fazer suas feiras na cidade.

Tudo era à base de caderneta, onde era anotado os "fiado".
Esse era um tempo em que os cabelos do bigode eram mais importantes do que as promissórias atuais...

Já na década de 1970, espelhados em nossos amigos citadinos, um de meus irmãos e eu, manifestamos o desejo de possuirmos um relógio.

Meu irmão tinha uma queda por um Grão Duque e eu por um Ernavin. Eram, relógios à corda mas, eram cobiçados.

Meu pai incumbiu seu Tiquinho, um senhor que vivia de negócios nas feiras livres de domingo, pra comprar esses relógios.

Tiquinho era um exímio trocador, isso era verdade, mas, convenhamos, fazia qualquer negócio, e, se a pólvora fosse alheia, ele puxava o gatilho, independentemente da distância.

Em dois dias ele chegou com os dois relógios, obedecendo nossas preferências.

De posse dos relógios a gente nem se acreditava. Meu irmão, num gesto de brincadeira, como quem estivesse mostrando o impossível, disse, pegando seu grão duque pela bracelete e fazendo um movimento brusco como quem fosse jogá-lo fora:

- Já pensou se eu jogasse esse relógio, assim, no chão...!!!???

Esse gesto, fez o relógio parar de trabalhar e assim ficou pelo resto do dia.

O desgosto tomou conta da gente. Meu pai ao tomar conhecimento, chamou Tiquinho e entregou os relógios pra ele fazer negócio; estes não mais nos interessava.

Não demorou, à tarde, seu Tiquinho já apareceu lá em casa pra conversar com nosso pai:

- Pronto, seu Chico, fiz negócio: dei os dois relógios em cinco galinhas e uma grade.

Meu irmão logo se manifestou, baixinho, afinal, em conversa de adulto a gente não se metia:

- Dá certinho, as galinhas a gente cria e a grade de Pitu papai apura na bodega.

Seu Tiquinho, com "ouvidos de tejo", ouviu a conversa e cuidou de corrigir a observação de meu irmão.

- Meu filho, a grade que eu recebi é de bater tijolo de barro...kkkkkkkkkk

Até hoje eu estou sem entender o peso que essa grade de bater tijolo, teve nessa troca.

* Manoel Lourenço, técnico agrícola aposentado e atualmente um contador de 'causos'

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